segunda-feira, 22 de abril de 2013

Filhos do Fim do Mundo (Com entrevista)



Olá queridos! Desculpe a demora, quem me conhece sabe que infelizmente meu avô veio a falecer, o velório foi em Piracicaba. Acabei ficando por lá um tempo por isso sumi. Mil desculpas, porém era necessário. Como sempre eu falo muito, vamos a resenha!

Filhos do Fim do Mundo é sem dúvida um marco para a literatura brasileira, há um tempo já que a Leya com o selo “Fantasy – Casa da Palavra” vem mudando o cenário por aqui, publicando livros de fantasia como nunca antes foi visto. Desta vez o escolhido para nos levar a um passeio pelo mundo da imaginação é Fabio Barreto. Para os que não viram, eu fiz uma resenha sobre a apresentação desse livro, que é fantástica.


Bom, logo que o livro começa você já nota sua singularidade, o livro não da nome aos personagens, existem muitas explicações para tal, porém, eu enxergo isso também como uma ferramenta de aproximação, afinal se eles não têm nome poderiam ser qualquer um. A história se passa sob a visão do “O Repórter” que acabou de retornar para casa após ter feito uma matéria sobre bunkers e pessoas que estavam se preparando para o “Fim do Mundo”. Ele estava  com sua esposa quando o telefone toca e ele é chamado para uma missão única, voltar a campo e descobrir como estão os bunkers pois todas as crianças do mundo que nasceram nos últimos 12 meses morreram. O Repórter inicia sua missão com muitos pesos, tentar salvar o mundo, voltar para sua esposa que está grávida, proteger a sanidade das pessoas que estão a ponto de se desesperar. Logo descobrem que não só as crianças estão morrendo como as plantas e animais que estão nascendo também, tudo que tem menos de 12 meses morre. Como se alimentar, como continuar?


Nessa geração "The Walking Dead" um livro que trata o "Fim do Mundo" sem zumbis já merece notoriedade, em seguida vemos uma história que nos inspira em 2 páginas, a história do autor, isso nos leva a querer devorar o livro. Você se pega imaginando saídas, imaginando o desfecho da trama, se imaginando no lugar das pessoas na história. É genial, uma obra de sci-fi brasileira digna de figurar em sua estante ao lado de qualquer gênio do gênero de igual para igual com qualquer autor internacional.

O enredo é envolvente, é uma leitura fácil, no bom sentido, pois o livro flui, eu o li rapidamente. Para ser sincero o livro foi uma grande surpresa, assim como a pessoa Fábio Barreto, que mostra muito do que ele é no livro e nos detalhes da trama. Uma lição de como escrever, um aviso do que está por vir e mais, um ídolo para se espelhar, para aqueles que buscam escrever, que acreditam, eu garanto que ele será uma referencia pra você.

Minha visão sobre o livro. Ok, vamos deixar de lado toda a importância de ser um livro que explora um gênero menos convencional no Brasil, a originalidade, qualidade textual, tudo isso pode ser encontrado em " A cidade e as Serras" também, originalidade, qualidade e tudo mais, então, por que ler "Filhos do Fim do Mundo"? 

Filhos do Fim do Mundo tem o singular dom de te colocar na pele das pessoas, de fazer em cada faceta de personagem você se ver, você refletir e aprender. Na iminência de um fim você se pega pensando em suas relações familiares e civis. Salvar o mundo, como corrigir erros governamentais, reagrupar pessoas, cuidar, dar abrigo... Tudo isso vira segundo plano quando você passa a pensar " Mas, se o mundo acabar eu deixei claro o quanto eu amei a minha mãe? Um pedido de desculpas de última hora resolveria? Quem eu não vejo a anos que eu posso nunca mais ver?" e disso, o horizonte se expande infinitamente e passa a perguntas tão atuais e arraigadas no tecido da sociedade atual que chegam a beirar o nível de questões existenciais. Como interagir com o coletivo sem internet e celular? Como controlar uma juventude que cada vez mais se espelha em coisas sem fundamento, que se ligam a ídolos que representam valores mesquinhos, que projetam uma apoteose para pessoas de carne e osso que a maioria das vezes não sabe o seu nome. Você descobre que sabe de centenas de coisas que estão erradas no mundo e que você não faz nada para mudar.

Em resumo, Filhos do Fim do Mundo poder ser um novo caminho, pode ser um divisor de águas em muitos sentidos, assumindo posturas e frentes diversas em nosso mercado, do sci-fi a consciência social, é a cara do novo público jovem que é preocupado, visionário, é pra você que não é acomodado e que sabe se colocar na pele dos outros. 

Se você não é desses, bom, tá aí uma ótima oportunidade de apender a ser. 

Não posso dizer muito mais do que isso, ou seja... LEIA O LIVRO!

Ah, não acabou não, temos uma entrevista exclusiva pra vocês, sim, a primeira entrevista do blog! E vamos a entrevista.

"Olhando de longe, como estou fazendo nesse momento, diria que falta aquele sentimento de orgulho que temos com o futebol ou com a música. Brasileiros defendem os jogadores e brigam quando alguém não gosta da música que ele gosta, mas quando chega na hora da literatura. Quem recomenda um livro nacional? Quem faz isso para um estrangeiro?" - Fábio Barreto





Boa tarde Fábio!!! Primeiro gostaria de agradecer por escrever  “Filhos do Fim do Mundo”, sempre vejo os livros como uma companhia para todas as horas e tenho de admitir, seu livro foi uma ÓTIMA companhia. Foi uma leitura fácil (no sentido de fluir bem) e muito proveitosa. Ok vamos às perguntas.

O Refúgio Nerd - Não posso deixar de perguntar, podemos esperar por uma continuação? Já há uma previsão para publicação?

Fábio Barreto - Há argumento para uma segunda, e última parte. Mas não está nos planos. O desempenho ao longo dos anos vai determinar a existência, ou não, de uma continuação.

O Refúgio Nerd - Uma das coisas que mais marcou no livro é a forma que você usou para escrever, sem usar nomes próprios para os personagens, como surgiu essa idéia?

Fábio Barreto - Essa história é muito maior que cada um daqueles personagens ou do lugar onde eles nasceram. Ao dar nome a um personagem, de forma verídica sem ficar inventando anagramas bizarros, você liga aquele sujeito a um lugar. "Filhos" é a história de todos nós e nossas reações são a chave, não nossa cidadania. O único jeito de fazer isso era retirar os nomes. Adorei escrever assim. Foi difícil e recompensador!

O Refúgio Nerd - Você é jornalista, o livro fala sobre um repórter, o quanto de Fabio Barreto há no “O Repórter”?

Fábio Barreto - Bastante, rs. Minha profissão não é muito bem tratada pelo cinema, é normalmente esquecida pela literatura e ignorada pelas novas gerações, que, possivelmente, nos vêem como sujeitos arcaicos ou versões pioradas de Clark Kent. Resolvi fazer justiça com a profissão e, de quebra, aproveitar minha experiência de campo para criar algo factual.

O Refúgio Nerd - Como foi o SEU 12/12/2012? Quando acordou você respirou fundo e pensou um “Ufa”?

Fábio Barreto - Passei o "fim do mundo maia" escrevendo, quase esqueci dele. Acordei e só fui lembrar que tinha "passado" na hora do almoço. Dei um sorriso e foi isso. haha

O Refúgio Nerd - Vivemos um momento diferente em nosso país, sei que está longe mas, deve ter uma idéia de como anda nosso mercado, francamente vivemos uma época única para escritores infanto-juvenis, de terror à sci-fi, de fantasia à romances. Temos Spohr, André Vianco, Raphael Draccon, Carolina Munhóz, você. O que acha dessa mudança de mercado? O povo brasileiro está mudando sua visão literária ou as editoras que acharam um novo nicho de trabalho e seria este o fato que irá mudar a procura por esse estilo?

Fábio Barreto - A demanda por essa literatura sempre existiu, o que mudou foi a postura das editoras que perceberam que há vida além do "romance teen sobrenatural" e que uma hora esse público cresce e precisa de outras coisas para ler, ou decide ser eclético desde cedo. Quando as editoras perceberam, haviam opções de qualidade prontas para entrar no jogo. O Brasil sempre teve ótimos escritores de Ficção Científica (Jorge Luiz Calife, Carlos Orsi Martinho, Gerson Lodi-Ribeiro), mas o momento não era propício. Agora a coisa parece começar a mudar. Ainda estamos distante do ideal e "Filhos" tem uma função relevante aqui, ou assim espero, que é a de mostrar que podemos ser comerciais e relevantes ao mesmo tempo. A Fantasy percebeu isso. Agora é a hora dos leitores fazerem a parte deles. Só produtos de qualidade sobreviverão e quem determina isso é o leitor!

O Refúgio Nerd - Você vive a muitos anos fora do país, quando vai as livrarias, qual a referencia de literatura brasileira que você encontra?

Fábio Barreto - Só vejo Paulo Coelho por aqui. Ele foi o único que quebrou a barreira. Outros precisam vir, logo!

O Refúgio Nerd - Como todo leitor, em nossa cabeça leio vendo o livro como um filme, “Filhos do Fim do Mundo” tem um trabalho psicológico fantástico, porém em termos de efeitos especiais não  há nada que extrapole o poder de criação digital, em resumo, o custo para produção de uma adaptação do livro seria relativamente baixa, e sabemos que você é cineasta, já recebeu alguma proposta adaptar o livro para um roteiro e cinema? Tem planos para tal?

Fábio Barreto - Tenho planos de adaptar para o cinema ou TV, sim. Mas, novamente, boas vendas vão decretar o futuro desses planos. "Filhos" tem bastante potencial audiovisual e adoraria dirigir uma série de TV ou um longa. Ele seria caro, mas nada exageradamente milionário. Há meios de fazer muitas das cenas a custo baixo e já tenho muitas soluções prontinhas aqui. Basta alguma proposta chegar!

O Refúgio Nerd - Há uma pessoa que sem dúvida vem mudando o cenário brasileiro, por ser o louco a cogitar o até então desconhecido George Martin para a “Leya”, depois assumindo a frente no selo “Leya - Casa da Palavra” e por fazer parte dos sonhos de escritores maravilhosos e ajudar a concretizá-los, você acha que ele é o inicio de uma mudança definitiva na cultura brasileira?

Fábio Barreto - Difícil dizer que algo é definitivo, mas confio muito na visão do Draccon para o selo Fantasy e nosso posicionamento de mercado. A presença dele foi um dos fatores que me fez escolher a Fantasy como editora para "Filhos". Ele está apontando o caminho em meio à tempestade, mas quantos vão seguir essa direção em vez de continuar tentando encontrar seus próprios caminhos? Só o futuro vai dizer. O Draccon segue um conceito sólido, sabe o que está fazendo e escolhei um time bom demais para iniciar os trabalhos. Com o apoio da Casa da Palavra, ele tem tudo para solidificar essa mudança. O mercado brasileiro precisa desse sucesso e, se alguém é capaz de entregar, esse alguém é o Senhor do Éter!

O Refúgio Nerd - Nós tivemos a oportunidade de ver Harry Potter em uma abertura de Olimpíadas, sendo citado como orgulho de uma nação, hoje temos livros de fantasia como “Fios de Prata” sendo lançado em outros países, temos  “Filhos do Fim do Mundo”  extremamente bem colocado em vendas pela Apple store, o jovem já lê hoje muito mais do que a dez anos atrás, o público que lê Harry Potter, LOTR, Nárnia, Pathfinder e muitos outros invariavelmente vai acabar lendo as obras de fantasia de vocês, o que você acha que falta para que essas obras nacionais virarem referência mundial como estas obras antes relacionadas?

Fábio Barreto - Complicado apontar o que falta. Estamos fazendo a nossa parte, publicando livros e batalhando. Talvez maior envolvimento dessa geração com as temáticas trazidas pelos autores nacionais? Talvez um amadurecimento tanto de autores quanto de leitores? Talvez um "Harry Potter" nacional, sem plágio, claro? Muitas variáveis. Olhando de longe, como estou fazendo nesse momento, diria que falta aquele sentimento de orgulho que temos com o futebol ou com a música. Brasileiros defendem os jogadores e brigam quando alguém não gosta da música que ele gosta, mas quando chega na hora da literatura. Quem recomenda um livro nacional? Quem faz isso para um estrangeiro? O livro nacional é analisado como se tivesse obrigação de "ser obra-prima, ou não presta". Nem tudo que americanos escrevem é bom, mas eles dominam o mercado mundial mesmo assim. Podemos fazer o mesmo.



O Refúgio Nerd - Por último, você teve uma apresentação singular  em seu livro feita pelo Juras, um prefácio sensacional do Solano, agradecimentos bem completos feitos por você, então sabemos o quanto essa obra foi cuidada com carinho e bem recebida, que recado você gostaria de deixar para aqueles que leram seu livro mas não têm a oportunidade de conhecer o Barreto por trás das páginas ?

Fábio Barreto - rs. Bem, sou apaixonado pela escrita, deixo a emoção me guiar, me apaixono por cada livro dos meus ídolos, leio para minha filha todas as noites e acredito que a Educação pode melhorar o Brasil. Mas não sou político, sou escritor. Escrevo na esperança de que mais gente leia (qualquer livro, eu só fiz um, há milhares de outras opções!), acredite na força transformadora das páginas da literatura. Elas me mudaram e elas podem mudar você! Acredite nisso!

Fábio, muito obrigado pela entrevista, mais uma vez parabéns por todo trabalho que vem apresentando, muito sucesso para você, muita saúde e paz. Obrigado e até o próximo livro!


  - Van Vento -

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